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Tudo é agora

1886/2021

Rita Nasser


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Quando Liev Tolstói, no conto Senhores e Servos (1886), nos coloca dentro de uma floresta gelada, andando em círculos por uma noite sem fim, ele nos dá um presente imensurável.


É como se permitisse que durante as primeiras páginas deste conto pudéssemos mergulhar nas nossas florestas interiores, caminhando perdidos com Vassílii e Nikita, no percurso rumo ao desconhecido.


Com anseios e experiências muito particulares, cada um dos personagens, reflete em nós aquilo que somos ou fazemos durante nosso caminhar. E, diante da eminência da morte, nos convida a uma reflexão pessoal.


Esse conto torna-se essencial para a compreensão de como a literatura, a palavra literária, pode transcender às nossas expectativas de formação cognitiva para formação humana, essencial e urgente.


Num intervalo grande de tempo, esta é a minha terceira leitura do conto Senhores e Servos, e só hoje pude perceber o diálogo entre ele e o conto dos Irmãos Grimm: O Pobre e o Rico, que já li e contei inúmeras vezes para crianças e adultos.


Num primeiro momento, poderia ser apenas algo comum aos grandes escritores, o diálogo intertextual, pois observei que ambos os textos são relativamente contemporâneos, o que não significa muito. Talvez Jung nos convide a pensar sobre isso.


Na linha do tempo, ambos os contos nasceram próximos, ousando dizer que pertencem a um espaço de ideias compartilhadas e deixam um legado iluminado para aqueles que os leem.


Alguns elementos são comuns em ambos os textos: O rico e o pobre, o cavalo, a cela, o celeiro, a ambição, a avareza, a matéria, o cerne, a gentileza, a bondade, a nobreza da alma, o medo da morte, a fé, o desconhecido, a reparação, e muitos outros.


Nesse momento de pandemia, onde a morte ronda a existência humana, como um lobo faminto, pude constatar a atemporalidade e a importância da ficção, da literatura em sua forma mais bela.


Muitos e nós estão lendo mais e outros nem tanto, muitos estão bem e outros, nem tanto.


Diante da floresta gelada de hoje, no meio de uma tempestade pandêmica, somos forçados a refletir sobre a linha tênue entre o viver e o morrer, e tudo o que a vida representa, em sua essência.


Somos, ao mesmo tempo, senhores e servos!


Muitos sairão mortos, muitos vivos, outros gelados, outros do mesmo jeito...

Acredito que um bom número, não ouso dizer muitos, sairão desta fase modificados e com esperança.


Como diria Quintana - O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Essa meninazinha também conversa com Ismália, de Alphonsus!

Mas isso fica para outro dia.


Rita Nasser

Literatura Comparada/pesquisas e estudos livres


*Obs.: Senhores e Servos faz parte do Livro- A Morte De Ivan Ilitch – Livro de 140p. que deveria constar em nossas leituras de vida.

 
 
 

1 comentário


Ana Paula Freitas
Ana Paula Freitas
15 de jan. de 2021

Amei o texto, o convite a reflexão... presente valioso

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